Partes! De um todo? É um exercício de escrita dramatúrgica.
A: Então você veio?
B:
A: É parece que sim!
B:
A: Ou então o que seria essa forma disforme na minha frente?
B:
A: Gosto da roupa.
B:
A: Gosto muito da maquiagem.
B:
A: Precipitado comentar sobre o cheiro, agora, não acha?
B:
A: Por que você não aceitou a água quando eu te ofereci?
B:
A: Sim, eu prometi ir até o fim.
B:
A: Mas, será que acaba hoje?
B:
A: Cigarros, eu não acredito! Você ainda se arrisca com isso?
B:
A: Eu sei, você me disse.
B:
A: É o que te salva.
B:
A: Como era mesmo a exata frase?
B:
A: Lembrei!
B:
A: “Trago profundamente toda a fumaça, me sufoco, para conseguir, enfim,
respirar”.
B:
A: Isso mata dizem, e olha que parece ser um consenso.
B:
A: Sim, verdade, unanimidades são raríssimas.
B:
A: Esse seu humor sempre foi seu forte, sabia?
B:
A: E o meu fraco? Você acha? Talvez.
B:
A: Você tá me perguntando o porquê do encontro?
B:
A: Memórias.
B:
A: Impossibilidades.
B:
A: Vícios.
B:
A: Confissões.
B:
A: Limpa a boca antes de falar comigo.
“Três pessoas são capazes de guardar um segredo, se duas delas estiverem
mortas”.
A: Vamos lá. Vamos começar tudo de novo.
B: Eu já sei como funciona o jogo.
A: Eu pergunto.
B: Eu não respondo.
A: Eu fico desapontado.
B: Eu fico cínica.
A: Eu fico furioso.
B: Eu fico quase viva.
A: Você está bem hoje?
B: Sim, me sinto bem-disposta.
A: Qual era mesmo o número da casa?
B: Disposta, porém a memória ainda muito ruim.
A: Eu preciso dos sobrenomes, você me entende, não entende?
B: Claro, quantos Carlos existem nessa sua lista, não é mesmo?
A: Sobre nomes. Nomes e sobrenomes. Me entende?
B: O ar ficou muito distante dessa vez.
A: Tomarei mais cuidado.
B: Vou te dar um segredo, para acalmar seu apetite, combinado?
A: Pode começar.
B: Três pessoas são capazes de guardar um segredo, se duas delas estiverem
mortas.
“Decidimos fazer uma procissão por seis lugares que foram centros de tortura,
sequestro e violência política sexual na ditadura e que hoje em dia estão
absolutamente invisíveis, inclusive alguns tendo se tornado centros comerciais.
Queremos mostrar que o que estão escondendo é a memória e impunidade.
Queremos deixar claro que os crimes sexuais sofridos pelas mulheres durante a
ditadura, estão todos, TODOS, absolutamente IMPUNES e que seguem
acontecendo, por isso continuamos lutando”.
O que você quer me dizer?
O que vocês fizeram?
Sente frio?
Você fala de culpados?
Você é inocente?
Aqueles ali são guardas, policiais, homens do exército?
Por que alguns de roupa e outros sem?
E aqui na frente, mulheres, onde estão os homens?
Roupas no chão?
Mortos no chão?
Que lugar é esse?
Que ano é esse?
Para onde você está olhando?
Quem levou sua cor?
Notas do autor:
Primeiras aspas por Benjamin Franklin via google.
Segunda aspas por Beatriz Bataszew via youtube.
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